Rotatórias para veículos na futura cidade de Lusail. Vista da maquete. (foto: Gustavo Faleiros)

É possível ser sustentável no meio do deserto? É bem esta a questão que vem à mente quando se visita o Catar, um emirado localizado em uma pequena península no Golfo Persíco. Tive a oportunidade, durante a Conferência Mundial de Jornalismo Científico, de visitar a futura Lusail. É um dos projetos de novas zonas urbanas, universidades e centros de convenções que parecem brotar da areia. Todos com design arrojado e, claro, prometendo arquitetura verde, sustentabilidade e baixas emissões de carbono.

O fato é que a economia do Catar é intensiva em carbono por si só. O país possui a terceira maior reserva de gás natural do planeta, 50% do PIB advém da exploração de combustíveis fósseis. Sua capital, Doha (veja mapa), é o exemplo do poder financeiro atingido pelo país nos últimos dez anos, quando o PIB per capita foi alçado à posição de segundo mais elevado em todo mundo. Com seus 1,6 milhões de habitantes, o Catar perde apenas para principato de Liechstenstein, na Europa, quando se fala de riqueza por habitante.

Em Doha, grandes torres envidraçadas dominam o horizonte. Sob temperaturas que podem facilmente passar dos 45 graus no verão, o ar condicionado funciona sem parar e sem moderação. Um quarto de hotel, por exemplo, pode receber visitantes com congelantes 10 graus. Acreditem, é preciso dormir de cobertores em plena península arábica.

O horizonte em Doha é dominado por torres envidraçadas sobre uma baía no Golfo Pérsico (vídeo: Gustavo Faleiros)

A farta receita do gás e petróleo não apenas financia edifícios luxuosos. A Copa do Mundo de futebol em 2022, cuja a candidatura bem sucedida do Catar promete investimentos em energia e transporte renovável, será uma das mais caras já realizadas. No vídeo abaixo, os projetos de estádio mostram a opção para se chegar ao jogos utilizando taxis aquáticos. Ao menos no modelo virtual, serão movidos com a força do vento soprado nas velas.

Mas taxis eólicos não parecem responder à pergunta sobre como realizar um evento em pleno verão no meio do deserto sem empregar grandes quantidades de energia. Aliás, promete-se ar condicionado dentro dos campos, para que os jogadores possam aguentar o calor escorchante desta época do ano.

A Copa no Catar também tornou-se um dínamo de investimentos imobiliários. Novos prédios, hotéis, bairros e até cidades estão surgindo na esteira do evento futebolístico. Em Lusail, cuja a alcunha grandiosa é ‘a cidade do futuro’, uma zona urbana de 38 km2 está neste momento sendo construída em frente à costa do Golfo Pérsic. Ela está projetada para receber até 250 mil pessoas. A cidade será conectada por trens à capital Doha. Internamente, seus moradores serão transportados por vagões suspensos.

Vídeo: Os estádios da Copa de 2022, Catar

Assim como no caso da Copa do Mundo, não é fácil descobrir detalhes básicos do funcionamento de empreendimentos no deserto. Por exemplo, de onde virá a água para suprir toda a cidade? De acordo com informações providas aos jornalistas que visitaram Lusail, a companhia de saneamento do Catar será responsável por prover água à nova cidade e isto deve ocorrer com a ajuda das plantas de desalinização, como descrito pelo site da Qatar Eletricity and Water.

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